terça-feira, 27 de abril de 2010

Custo do Sistema Alternativo de Criação de Aves

Este sistema de criação foi desenvolvido para atender às necessidades de agricultores familiares de baixo poder aquisitivo. Dessa forma, suas instalações e seu modo de funcionamento foram dimensionados de forma que estejam ao alcance desses agricultores, pois preconiza a utilização de materiais baratos e compostos, em sua maioria, por recursos naturais existentes em suas propriedades (Tabela 16).

Tabela 16. Valores orçamentários das obras e equipamentos referentes as instalações do sistema alternativo de criação de galinha caipira.

Entretanto, o sistema prevê a utilização de alguns equipamentos, como balança e triturador de forragem, os quais, embora representem um adicional considerável no custo total, podem ser adquiridos por meio de associações, reduzindo consideravelmente o valor a ser empregado por cada agricultor, visto que uma única unidade destes equipamentos é suficiente para atender a diversos módulos de criação.

Manejo Reprodutivo

Consiste em uma série de práticas que visam melhorar a eficiência do plantel, mediante cuidados com as aves (matrizes e reprodutores) e com os ovos. Algumas recomendações relacionadas à seleção e ao acondicionamento dos ovos devem ser feitas aos criadores, a fim de orientar e gerar subsídios para a implementação dessa atividade de forma mais eficiente.

À medida que ocorre a postura dos ovos, os mesmos devem ser recolhidos, limpos com pano úmido e receber a inscrição do dia da postura. Em seguida, são selecionados de acordo com o tamanho e qualidade da casca. Os de tamanho médio devem ser destinados à incubação e os de tamanho grande e pequeno, ao consumo e/ou comercialização. Recomenda-se o seu acondicionamento em temperatura ambiente por no máximo sete dias, desde que estejam em local arejado. Já em geladeiras, podem ser acondicionados por um período de até trinta dias. A posição de acondicionamento dos ovos deve ser alterada constantemente, para que não ocorra aderência da gema à casca.

Tanto na incubação natural como artificial, os critérios de seleção e acondicionamento dos ovos são muito importantes. O procedimento de analisar os ovos durante a incubação (ovoscopia) possibilita, após os primeiros dez dias de incubação, o recolhimento dos ovos não galados. A ovoscopia consiste em observar o interior do ovo através de uma fonte de luz em ambiente escuro. Neste procedimento, percebe-se defeitos da casca (rachaduras e despigmentação), duplicidade de gema e presença de elementos estranhos. No caso da incubação, observa-se o desenvolvimento do embrião.

Manejo Alimentar

em como objetivo principal suprir as necessidades nutricionais das aves em todos os seus estágios de desenvolvimento e produção, otimizando o crescimento, a eficiência produtiva e a lucratividade da exploração, já que o custo com alimentos representa 75% do custo total de produção.

O manejo alimentar proposto para o sistema alternativo de criação de galinhas caipiras prevê a integração das atividades agropecuárias, com o aproveitamento de resíduos oriundos da atividade agrícola. Tal fato não só permite a redução dos custos de produção, como também, a agregação de valores aos produtos, pois utiliza resíduos agrícolas, como a parte aérea da mandioca (folhas), que normalmente são abandonados no campo, transformando-os em proteína animal. Além da parte aérea da mandioca, que é rica em proteína, é possível se utilizar as raízes de mandioca, suas cascas e crueiras, que são subprodutos da fabricação da farinha e da goma de mandioca (Figura 15).


Figura 15. Fontes alternativas de alimento para a criação de galinhas caipiras.

Outra fonte de alimento rico em proteína que normalmente é pouco aproveitada, embora apresente enorme potencial para a alimentação de galinhas caipiras, é o farelo de arroz, cujos teores de proteína bruta são de aproximadamente 15%. Este produto resulta do processo de beneficiamento dos grãos de arroz para consumo, sendo relativamente fácil de ser obtido, principalmente nas unidades agrícolas familiares que adotam o sistema de cultivo do arroz.

Por serem animais não ruminantes, as aves exigem que os alimentos contenham pouca fibra vegetal e sejam fornecidos de forma balanceada e devidamente triturados, a fim de facilitar a digestão. Alimentos fibrosos apresentam baixa digestibilidade, elevam os custos e atrasam o desenvolvimento das aves. Dessa forma, a dieta deve ser estabelecida de acordo com a exigência nutricional de cada fase do seu desenvolvimento, sendo que a formulação da ração deve ser feita com base nos teores de proteína apresentados por cada um de seus componentes, na sua eficiência alimentar (Tabela 13).

Tabela 13. Exemplo de uma ração formulada a partir de vários ingredientes e considerando-se as diferentes fases de desenvolvimento das aves.

Além dos produtos indicados, podem-se utilizar vários outros produtos, como fonte alternativa de alimentos para as aves, tais como fenos de feijão-guandu ou leucena, ou vagens moídas de faveira (Parkia platicephala), que é uma espécie abundante no Piauí. No caso de se utilizar qualquer uma dessas fontes de alimento, os seus teores de proteína devem ser considerados, a fim de permitir a formulação correta das rações e proporcionar um desempenho adequado das aves, conforme Tabela 14.

Tabela 14. Desempenho esperado para as aves no sistema alternativo de criação de galinhas caipiras.

Os cálculos para estimativa de desempenho advêm da evolução zootécnica da espécie, onde com base no consumo de ração (CR) e do ganho de peso (GP) de cada fase ou de todo o ciclo reprodutivo estima-se, também, a conversão alimentar (CA), que é a razão entre as duas variáveis inicialmente citadas.

Manejo Sanitário

Tem por objetivo manter as condições de higiene no sistema de criação que permitam minimizar a ocorrência de doenças, obter boa performance e bem-estar das aves, além de assegurar ao consumidor um produto de boa qualidade. Uma das formas de controlar as doenças no plantel é por meio da higienização das instalações, controle de vetores de doenças e remoção de carcaças de aves mortas. Essas medidas visam a diminuir os riscos de infecções e aumentar o controle sanitário do plantel, resguardando a saúde do consumidor.

O manejo sanitário deve ser estabelecido levando-se em conta dois pontos principais:

1) Assepsia de instalações e equipamentos:

A remoção periódica dos excrementos e pulverização de toda a instalação com produtos naturais como fumo e sabão, cuja calda pode ser obtida a partir da desagregação de 200 gramas de fumo e sabão na proporção de (1:1) em um litro d'água durante 1 dia e posterior diluição e cinco litros d'água.

  • Limpeza diária dos comedouros e bebedouros.
  • Renovação, a cada ciclo de incubação, do enchimento dos ninhos.

2) Controle de doenças fisiológicas, patogênicas e parasitárias:

  • O controle de doenças fisiológicas é realizado mediante o uso de práticas de manejo que evitam situações estressantes. Deve ser efetuado levando-se em conta a taxa de lotação adequada, o suprimento protéico e mineral de acordo com a exigência para cada fase de criação, ventilação das instalações, fornecimento de água e comida nas horas adequadas, etc;
  • As doenças patogênicas são transmitidas por meio de vírus e bactérias. As principais doenças que ocorrem na região Meio-Norte do Brasil são a Bronquite infecciosa, Newcastle, Gumboro e Varíola aviária (Bouba). Além da limpeza dos equipamentos e instalações, também deve ser estabelecida uma cobertura vacinal, além do uso de antibióticos (Tabela 12).
  • Para o controle das doenças parasitárias, além da limpeza de equipamentos e instalações deve-se, também, estabelecer um plano de controle de endo e ectoparasitas, que dependerá do monitoramento das condições das aves (Tabela 12).
Tabela 12. Esquema de controle de doenças patogênicos e parasitárias nas diferentes fases do desenvolvimento das aves.

Manejo Produtivo

Expectativa de Produção e Forma de Abate de Aves

Para a estabilidade do plantel de um módulo de criação de galinhas caipiras deve ser levada em conta a mortalidade máxima aceitável de 10%, ficando o plantel assim configurado:
  • 01 reprodutor com 6 a 24 meses de idade.
  • 12 matrizes com 6 a 24 meses de idade.
  • 63 a 97 pintos em fase de cria (1 a 30 dias de idade).
  • 60 a 92 pintos em fase de recria (31 a 60 dias de idade).
  • 112 a 174 frangos em fase de terminação (61 a 120 dias).

A variação no número de animais nas fases de cria, recria e terminação decorre do tipo de sistema de produção adotado, que pode ser com incubação natural ou artificial (chocadeira).

Na unidade modelo da Comunidade Boi Manso, o módulo de criação conduzido no sistema de incubação natural apresentou, no período de janeiro a julho de 2002, resultados bastante satisfatórios (Tabela 15).

Tabela 15. Evolução do plantel de aves no sistema alternativo de criação de galinhas caipiras, no período de janeiro a julho de 2002, na Comunidade Boi Manso, Regeneração, PI.



O monitoramento da evolução do plantel de aves é uma ferramenta extremamente importante para se ter o controle dos fatores que podem comprometer o sucesso da atividade. Por meio das informações coletadas e analisadas periodicamente, o criador pode gerenciar de forma mais eficiente a sua criação, visto que, encontra meios para detectar possíveis falhas ou problemas que podem ocorrer ao longo das diferentes etapas da criação.

Dessa forma, a fim de facilitar a coleta de informações referentes a entradas e saídas de animais do plantel (nascimento, compra, morte, venda e consumo), bem como, aos dados de postura e incubação, podem ser utilizadas fichas de acompanhamento simples, conforme modelos:


Ficha 1. Modelo de ficha para controle mensal do plantel de galinhas caipiras.

Categoria

Estoque

inicial

Entrada

Saída

Estoque

final

Nascidos

Compra

Morte

Consumo

Venda

Reprodutores








Matrizes








Pintos 1–30








Pintos 31–60








Frangos 61-150








Total geral








Ficha 2. Modelo de ficha para controle mensal de postura de galinha caipira.

CONTROLE DE POSTURA – MÊS____________/___________

Nome: ____________________________________________

Comunidade: ______________________________________

Município:__________________________________________

Dia

Postos

Consumidos

Vendidos

Perdidos

Incubados

01






02






03






04






05






06






07






08






09






10






11






12






13






14






15






16






17






18






19






20






21






22






23






24






25






26






27






28






29






30






31






TOTAL






Ficha 3. Modelo de ficha para controle mensal de incubação de galinha caipira.

CONTROLE DE INCUBAÇÃO – MÊS_____________/___________

Nome: ____________________________________________

Comunidade: ______________________________________

Município:__________________________________________

Incubação

Ovoscopia

Eclosão

Ovos

cheios

Ovos

secos

Dia

Mês

Ovos

Dia

Mês

Ovos

Dia

Mês

Pintos

01











02











03











04











05











06











07











08











09











10











11











12











13











14











15











16











17











18











19











20











21











22











23











24











25











26











27











28











29











30











31











TOTAL










As aves prontas para o abate e destinadas à comercialização são, em sua maioria, entregues vivas em restaurantes locais ou repassadas a terceiros (intermediários ou consumidores finais). Mesmo assim, o abate é uma prática comum realizada pelos agricultores, quando as aves se destinam ao consumo doméstico. Nesse caso, devem ser observados os aspectos higiênicos adequados e os procedimentos necessários para a obtenção de carne de boa qualidade, principalmente com relação ao sabor, cor e textura. O abate em maior escala requer uma observação mais criteriosa, que atenda aos requisitos da vigilância sanitária, inclusive com relação à manipulação dos resíduos que atraem outros animais, como moscas, roedores e alguns carnívoros, além de provocarem mau cheiro e de contaminarem o ambiente.

No período que antecede ao abate, recomenda-se deixar as aves em repouso, suspendendo, seis horas antes, o fornecimento de alimentos sólidos a fim de evitar o rompimento dos intestinos e a contaminação da carcaça. Deve-se também levar em consideração a disponibilidade de água, a limpeza do local e dos instrumentos que serão utilizados na escaldagem, depenação e corte das aves, bem como, o uso de utensílios adequados para recepção de sangue, vísceras, penas e rejeitos.

A fim de reduzir o sofrimento e a dor da ave durante a sangria, recomenda-se realizar a dessensibilização, que pode ser obtida pelo desnucamento ou pela perfuração da base da nuca. Nesse processo é importante a contenção adequada da ave, para que não ocorram fraturas ou mesmo contusões que comprometam a qualidade da carcaça, além de facilitar a sangria. A sangria completa melhora a tonalidade da carne e possibilita a sua melhor conservação.

Para a depenação das aves, recomenda-se que a água esteja a uma temperatura de 65ºC, na qual a ave deve ser imersa por aproximadamente cinco minutos. Esta operação permite a retirada total das penas e pele das pernas e pés, sem causar danos à carcaça.

Após a depenação, a carcaça deverá ser lavada em água corrente, quando estará pronta para ser cortada e ter suas vísceras retiradas. O primeiro corte deve ser feito no final do pescoço, possibilitando a extração do papo e esôfago. Um outro corte na região da cloaca, permite a retirada das vísceras (moela, fígado, intestinos e outros). Cuidados especiais são necessários para manter a integridade de órgãos que contenham alimentos e fezes. Após essa operação, realiza-se uma nova lavagem da carcaça, tanto externa como internamente em água corrente, deixando-a escorrer por 15 minutos.

Para acondicionamento e armazenagem das carcaças, recomenda-se a utilização de sacos plásticos que permitam acomodá-las com suas respectivas vísceras. Para armazenar o produto por períodos inferiores a 48 horas pode-se refrigerar a carne a uma temperatura de 2 a 8ºC. Para períodos maiores, por sua vez, há a necessidade de se manter os refrigeradores a temperaturas de 10ºC, não devendo ficar armazenado por um período superior a 90 dias.

Em termos de comercialização de produtos oriundos da atividade agrícola familiar, é muito importante que os agricultores estejam organizados em associações comunitárias. Tal fato não só permite a redução dos custos operacionais com mão-de-obra e transporte, como também, a manutenção de uma oferta regular, escalonada e competitiva dos produtos. Além disso, a adoção de todos os cuidados recomendados tanto na criação, como no abate das aves, permite que o produto final atenda às exigências do consumidor facilitando a obtenção de marcas comerciais que possibilitem a sua venda em outros locais.

Seguidores